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BIODIVERSIDADE INTEGRADA

Recentemente houve um crescente aumento na discussão a respeito de biodiversidade e produção de alimentos. Órgãos internacionais como a FAO - Food and Agriculture Organization of the United Nations investem um esforço considerável na divulgação de práticas mais sustentáveis de produção agrícola, aliadas ao consumo consciente de alimentos, e a preservação da biodiversidade nativa, não somente de alimentos, mas também da flora e fauna em geral. Dessa forma a biodiversidade alimentar é vista hoje como tema estratégico para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais.

 

Além da FAO, inciativas com a B4FN - Biodiversity for Food and Nutrition Initiative, liderada por quatro países, Brasil, Quênia, Sri Lanka e Turquia, e financiada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), realiza diversas pesquisas na área, desenvolve ações diversas e busca influenciar na elaboração de politicas públicas para a promoção da segurança alimentar mundial. Ambos utilizam do conceito de “alimentos da biodiversidade” (alimentos da biodiversidade são "as diferentes variedades, cultivares e espécies de plantas e animais utilizados como alimento, assim como espécies negligenciadas, subutilizadas e selvagens" [FAO/INFOODS 2013]) e buscam caminhos para uma real integração da biodiversidade. Essa integração é vista como o processo de "Incorporação dos conceitos de biodiversidade nas políticas, estratégias e práticas de órgãos públicos e privados, que impactem ou dependam da biodiversidade, de maneira que ela seja conservada e usada de forma sustentável local e globalmente" (Global Environment Facility, 2014).

 

Em relação a questão das políticas públicas há um grande entrave quando a questão é aproximar a relação da agricultura com o meio ambiente. Nosso sistema tradicional de produção de alimentos tende a não “conversar” com os conceitos e práticas relacionados a conservação da biodiversidade. Apesar da conscientização que busca uma integração de discursos há uma resistência as abordagens mais tradicionais do setor ambiental, onde na grande maioria dos casos há a proteção dos recursos florestais, por meio de unidades de conservação, de forma a mante-los intocados, resistindo a propostas de pesquisa e uso integrado de espécies subutilizadas e selvagens, negligenciando um grande potencial de novas soluções.

 

Não podemos negligenciar o fato de que os temas que abrangem a conservação da biodiversidade alimentar vão além de questões a respeito da produção de alimento, envolvendo a problemática da devastação das florestas, do avanço da ocupação sobre os biomas, da perda de recursos genéticos nativos e do conhecimento tradicional, questões que podem contribuir para a conservação da biodiversidade e ampliar a diversidade alimentar. Ações que envolvam, por exemplo, o levantamento do uso de recursos florestais analisando a viabilidade do uso sustentável dos recursos florestais não-madeireiros também podem colaborar na manutenção da variedade natural de recursos alimentares tradicionais não convencionais, na diversificação nutricional e na correlação entre a conservação da biodiversidade e nutrição, indo de encontro, por exemplo, as propostas do projeto B4FN.

 

Apesar de esforços louváveis, poucos conhecem nossa biodiversidade, menos ainda vislumbram as possibilidades a ela associada. Um conceito básico que muitos esquecem pode ser ilustrado pela máxima de Aloísio Magalhães, "só se preserva aquilo que se ama, só se ama aquilo que se conhece" e que pode ser aplicado em questões tanto culturais como ambientais.

 

Dessa forma temos um potencial florestal parcamente utilizado, devido muitas vezes a má caracterização e a visão puramente conservacionista. Assim se perde a diversidade, a paisagem e o país.

 

 

André Guilherme

(18/02 à 28/03/2019)

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