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GOHAN FUMEGANTE

Das minhas mais longínquas memórias 10 em cada 9 são relacionadas a comida, e a grande maioria delas trazem excelentes lembranças.

 

Me lembro da primeira vez que provei tabule em uma viagens aos 5 anos de idade, de escalar o armário da cozinha, que eventualmente caiu sobre mim, aos 2 anos para pegar uma lata de leite condensado, das azeitonas pretas com azeite e orégano que um amigo levava de lanche na escola nas segunda série do primário (não me pergunte porque), do lambari frito com salada de chuchu e cebolinha que meu pai preparava no rancho de pesca com os amigos.

Também me lembro dos frutos do mar preparados na churrasqueira em um camping em Santa Catarina em 1982, do arroz carreteiro com sobras de churrasco, e de pegar bagas de ingá na beira de uma estrada empoeirada da janela do Volkswagen Brasília, bege, da família, tudo na mesma viagem.

Ainda me lembro cheiro de mexerica que Dona Margarida (minha avó materna) descascava na porta da cozinha de casa, e com água na boca das inúmeras frituras que preparava, abobrinha, couve-flor, batata-doce, chuchu, e de um sanduíche de berinjela à milanesa recheado com presunto e queijo, tudo frito. Esta saudosa senhora, junto com as viagens de infância, como podem ver são responsáveis por grande parte da base de meu imaginário gastronômico.

 

Minha avó também garantiu que ficasse gravado em minha na lembrança um delicioso bolinho de arroz com noz moscada, receita que sempre me inspirei, mas nunca consegui reproduzir. O arroz do bolinho, ingrediente já citado no título deste texto, fez parte de uma obsessão infantil e se tornou alimento exclusivo em minha tenra infância. Independentemente do que me oferecessem a resposta era sempre a mesma: “Rôis, mais rôis!”

 

Essa faze se passou antes das lembranças relatadas e confesso que não tenho nenhuma memória sobre ela. Graças ao emprego eficiente de técnicas homeopáticas, por parte de minha mãe, no tratamento de minha jovem obsessão, minhas papilas gustativas conheceram novos sabores e ainda buscam novos amores.

 

Porém a paixão primordial resistiu e é cultivada carinhosamente até os dias de hoje, e assim dedico a um de meus primeiros amores obsessivos esse singelo pensamento: 

“A felicidade pode ser simples, como uma panela fumegante de Gohan”.

 

 

André Guilherme

(18/02 à 28/03/2019)

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