ICON_1.png

 

COMIDA REFLEXIVA

Alguns pesquisadores consideram a relação de certos povos asiáticos com a comida como algo quase medicinal. A atenção a comida fresca, recém preparada, com preferência a ingredientes tradicionais, muitos dos quais não industrializados. Para eles a cultura culinária das pequenas e variadas porções visa dentre outras, a harmonia, e o equilíbrio físico e mental, tornando o ato de comer um ato social. Dessa forma a participação do grupo social ao preparar, servir e consumir a comida ajuda na construção desse tipo particular de pensamento, e quanto mais cedo se toma contato com essa prática mais se entende e internaliza o processo.

 

Sem dúvida a cultura gastronômica, principalmente relacionada com a culinária japonesa como conhecemos hoje é um mosaico que inclui influências. Da construção deste mosaico participaram países como China, Coreia, Índia e até Portugal a partir da chegada dos Kurofune (literalmente barcos negros) os primeiros navios ocidentais que aportaram no Japão nos séculos XVI e XIX, durante o período Edo. Essa é uma história que se repete com frequência quando falamos sobre as culinárias tradicionais dos países ao redor do mundo, onde a tradição a que nos referimos é na verdade muito recente e reflete na verdade a influência de vários povos.

 

No Japão essa questão é tão presente que ultrapassa os limites do hábito e tradição, se estendendo para a educação e políticas públicas. No país essa é uma prática estimulada desde cedo já nas escolas, onde a dieta, o ato de comer e a educação em seus diversos aspectos são trabalhadas em conjunto, sendo transmitida sistematicamente aos estudantes.

 

Tal prática é prevista e garantida pela Lei Shuku Iku, que visa dentre outras coisas elaborar a partir do ato de comer a construção de uma cultura social e na informação. Para que tal prática seja efetiva há, além do comprometimento dos educadores, um treinamento que garante a eles um embasamento sólido sobre o tema, que inclui informações sobre nutrição, cadeira alimentar, a produção e logística dos alimentos.

 

Neste caso há uma ancestral cultura gastronômica que embasa e da origem a esse pensamento, uma reflexão ao ato de comer e seu papel social, que reflete sem dúvida uma visão menos hedonista do que nós ocidentais estamos acostumados, mas de qualquer forma parece funcionar. Uma combinação bem-sucedida de ações comunitárias e educativas.

 

 

André Guilherme

(18/02 à 28/03/2019)

As opiniões expostas pelo autor refletem, necessariamente, a opinião deste website.

contato@andreguilherme.com